terça-feira, 20 de julho de 2010

Currículo e avaliação
Avaliamos a todo instante, para qualquer decisão que tomamos partimos do princípio da avaliação, na qual elencamos pontos positivos e negativos para que a decisão tomada seja a mais acertada possível para o momento. O mesmo acontece nas atividades escolares, devemos avaliar constantemente o processo para que no decorrer das atividades possamos redimensionar o caminho quando necessário. A avaliação escolar precisa ser freqüente, pois a partir dela podemos identificar tivemos mudança de atitude, de aprendizagem do ponto de partida ao ponto de chegada.
A avaliação é, portanto, uma atividade que envolve legitimidade técnica e legitimidade política na sua realização. Ou seja, quem avalia, o avaliador, seja ele o professor, o coordenador, o diretor etc., deve realizar a tarefa com a legitimidade técnica que sua formação profissional lhe confere. Entretanto, o professor deve estabelecer e respeitar princípios e critérios refletidos coletivamente, referenciados no projeto político pedagógico, na proposta curricular e em suas convicções acerca do papel social que desempenha a educação escolar. Este é o lado da legitimação política do processo de avaliação e que envolve também o coletivo da escola.
Se a escola é o lugar da construção da autonomia e da cidadania, a avaliação dos processos, sejam eles das aprendizagens, da dinâmica escolar ou da própria instituição, não deve ficar sob a responsabilidade apenas de um ou de outro profissional, é uma responsabilidade tanto da coletividade, como de cada um, em particular. Avaliar, para o senso comum, aparece como sinônimo de medida, de
atribuição de um valor em forma de nota ou conceito. Porém, nós, professores, temos o compromisso de ir além do senso comum e não confundir avaliar com medir.
Avaliar é um processo em que realizar provas e testes, atribuir notas ou conceitos é apenas parte do todo. A avaliação é uma atividade orientada para o futuro. Avalia-se para tentar manter ou melhorar nossa atuação futura. Essa é a base da distinção entre medir e avaliar. Medir refere-se ao presente e ao passado e visa obter informações a respeito do progresso efetuado pelos estudantes. Avaliar refere-se à reflexão sobre as informações obtidas com vistas a planejar o futuro.
Portanto, medir não é avaliar, ainda que o medir faça parte do processo de avaliação. Avaliar a aprendizagem do estudante não começa e muito menos termina quando atribuímos uma nota à aprendizagem. Hoje, é voz corrente afirmar-se que a avaliação não deve ser usada com o objetivo de punir, de classificar ou excluir. Usualmente, associa-se mais a avaliação somativa a estes objetivos excludentes. Entretanto, tanto a avaliação somativa quanto a formativa podem levar a processos de exclusão e classificação, na dependência das concepções que norteiem o processo educativo. Apesar de termos claro que o processo avaliativo não deva ter caráter exclusivo, punitivo, é recorrente os casos de profissionais que fazem chantagem com seus alunos a fim de garantirem o "bom comportamento" em sala de aula a partir das notas, ou seja, deixasse de pensar na aprendizagem enquanto foco de avaliação para pensar na avaliação atitudinal, comportamental o que não garante de forma alguma que o aluno tenha aprendido.
A avaliação tem como foco fornecer informações acerca das ações de aprendizagem e, portanto, não pode ser realizada apenas ao final do processo, sob pena de perder seu propósito. Segundo Allal (1986, p.176), "os processos de avaliação formativa são concebidos para permitir ajustamentos sucessivos durante o desenvolvimento e a experimentação do curriculum". Perrenoud (1999, p.143) define a avaliação formativa como "um dos componentes de um dispositivo de individualização dos percursos de formação e de diferenciação das intervenções e dos enquadramentos pedagógicos".
Outro aspecto fundamental de uma avaliação formativa diz respeito à construção da autonomia por parte do estudante, na medida em que lhe é solicitado um papel ativo em seu processo de aprender. Ou seja, a avaliação formativa, tendo como foco o processo de aprendizagem, numa perspectiva de interação e de diálogo, coloca também no estudante, e não apenas no professor, a responsabilidade por seus avanços e suas necessidades. Para tal, é necessário que o estudante conheça os conteúdos que irá aprender, os objetivos que deverá alcançar, bem como os critérios que serão utilizados para verificar e analisar seus avanços de aprendizagem. Nessa perspectiva, a auto-avaliação torna-se uma ferramenta importante, capaz de propiciar maior responsabilidade aos estudantes acerca de seu próprio processo de aprendizagem e de construção da autonomia. A avaliação formativa é aquela em que o professor está atento aos processos e às aprendizagens de seus estudantes. O professor não avalia com o propósito de
dar uma nota, pois dentro de uma lógica formativa, a nota é uma decorrência do processo e não o seu fim último. O professor entende que a avaliação é essencial para dar prosseguimento aos percursos de aprendizagem.Continuamente, ela faz parte do cotidiano das tarefas propostas, das observações atentas do professor, das práticas de sala de aula.
A avaliação formativa neste contexto é tida como ponto de referência tanto para o professor quanto para o aluno, uma vez que é aquela que orienta os estudantes para a realização de seus trabalhos e de suas aprendizagens, ajudando-os a localizar suas dificuldades e suas potencialidades, redirecionando-os em seus percursos. E aponta ao professor os pontos necessários a serem retomados e repensados a fim de tornar a aprendizagem algo eficaz e significativo para seus alunos.
Neste contexto é fundamental transformar a prática avaliativa em prática de aprendizagem. Avaliando de modo a proporcionar condição para a mudança de prática e para o redimensionamento do processo de ensino/aprendizagem. Uma vez que, avaliar faz parte do processo de ensino e de aprendizagem: não ensinamos sem avaliar, não aprendemos sem avaliar. Dessa forma, rompe-se com a falsa dicotomia entre ensino e avaliação, como se esta fosse apenas o final de um processo.
Assim, mesmo sem perceber em nossas salas de aulas, estamos permanentemente emitindo juízos de valor sobre os estudantes (freqüentemente de forma pública). Esses juízos de valores vão conformando imagens e representações entre professores e estudantes, entre estudantes e professores e entre os próprios estudantes. Devemos ter em mente que, em nossa prática, não estamos avaliando nossos estudantes e crianças, mas as aprendizagens que eles realizam.
A busca pela coerência nas ações educativas deve ser o norte do professor. O professor, trabalhando na perspectiva da avaliação formativa, não está preocupado no dia-a-dia em atribuir notas aos estudantes, mas em observar e registrar seus percursos durante as aulas, a fim de analisar as possibilidades de aprendizagem de cada um e do grupo como um todo. Pode, dessa forma, planejar e replanejar os processos de ensino, bem como pode planejar as possibilidades de intervenção junto às aprendizagens de seus estudantes.
|Na proposta de educação democrática do Município de Concórdia, a avaliação é assim descrita:
"O significado da avaliação na Educação Democrática deverá superar as práticas tradicionais, classificatórias e excludentes, percebendo a avaliação como parte do processo de mediação da construção do conhecimento. Isso implica em acompanhar este percurso com diversos instrumentos que permitam analisar e dialogar com o aluno, reencaminhando ações conforme suas necessidades e suas diferenças individuais (...)

A avaliação é um processo intrínseco em todas as atividades desenvolvidas na escola:

A avaliação é algo inerente aos processos cotidianos e de aprendizagem, na qual todos os sujeitos desses processos estão envolvidos. A avaliação como parte de uma ação coletiva de formação dos estudantes, ocorre, portanto, em várias esferas e com vários objetivos. (FERNANDES, FREITAS, 2008, p. 18)

Para estes autores há a avaliação da aprendizagem dos estudantes, em que o professor tem um protagonismo central, mas há também a necessária avaliação da instituição como um todo, na qual o protagonismo é do coletivo dos profissionais que trabalham e conduzem um processo complexo de formação na escola, guiados por um projeto político-pedagógico coletivo.

A avaliação é uma das atividades que ocorre dentro de um processo pedagógico,que inclui outras ações que implicam na própria formulação dos objetivos da ação educativa, na definição de seus conteúdos e métodos, entre outros. A avaliação, portanto, sendo parte de uma processo maior, deve ser usada tanto no sentido de uma companhamento do desenvolvimento do estudante, como no sentido de uma apreciação final sobre o que o estudante pôde obter em um determinado período, sempre com vistas a planejar ações futuras. FERNANDES, FREITAS, 2008, p. 20).


Baseada na proposta avaliativa do nosso município, na escola na qual atuo, concebemos a avaliação dentro dos parâmetros estabelecidos pela municipalidade que é uma concepção que traduz de certa forma o que o texto nos propõe e nos faz refletir.
Então, para nós a avaliação é um processo constante de reflexão e assimilação do conhecimento adquirido através do ensino-aprendizagem num contexto global e internalizado, que objetiva a melhoria da ação educativa.
Esta é uma ação que ocorre durante todo o processo de ensino e aprendizagem e não apenas em momentos específicos caracterizados como fechamento de grandes etapas de trabalho e que envolve não somente o professor, mas também alunos, pais e comunidade escolar. Pois, esta subsidia o professor com elementos para uma reflexão contínua sobre a prática, sobre a criação de novos instrumentos de trabalho e a retomada de aspectos que devem ser revistos, ajustados ou reconhecimentos como adequados para o processo de aprendizagem individual ou em grupo. Para o aluno, é o instrumento de tomada de consciência de suas conquistas, dificuldades e possibilidades para reorganização de seu investimento de tomada de consciência da suas conquistas, dificuldades e possibilidades para reorganização de seu investimento na tarefa de aprender. Para a escola, possibilita definir prioridades e localizar quais aspectos das ações educacionais demandam maior apoio.
A avaliação inclui a observação dos avanços e da qualidade da aprendizagem alcançada pelos alunos ao final de um período de trabalho, seja este determinado pelo fim de um bimestre, ou de um ano, seja pelo encerramento de um projeto ou seqüência didática.
Tão importante quanto "o que" e "como" avaliar são as decisões pedagógicas decorrentes dos resultados da avaliação; eles orientam a reorganização da prática educativa do professor no seu dia-a-dia e ações educativas.

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